Vou falar de um fato que aconteceu ali na colônia da Mococa, que ficava perto da Fazenda dos Bonacin. Se não me engano, essa colônia era povoada pelas famílias que vinham até de outros estados para trabalhar nas lavouras de tomate e de goiabas e também de mandioca que supriam as fábricas que estavam sendo construídas na seção da Fazendinha, com as matérias primas para seu funcionamento.
Essa colônia não tinha energia elétrica, água encanada e tampouco banheiros. Eu trabalhava de aprendiz de caixeiro, ou balconista, no armazém local e conhecia muitas pessoas que moravam nas redondezas, inclusive as mocinhas. Passado um tempo, depois de uma grande greve armada dos trabalhadores como ultimato para legalizar a situação de quem ali vivia, na verdade houve o oposto, começaram a dispensar os muitos empregados que trabalhava. Foi aí que começou o êxodo rural.
Essa colônia foi uma das primeiras a se esvaziar, ficando muitas moradias vazias. Ali morava o “Seu” Sebastião, um bom camarada que gostava de tocar as Gaitas de oito baixos. Na época, suas filhas já era mocinhas e elas nos convidavam para ir dançar com elas sempre às quintas-feiras.
E lá ia eu e mais uns amigos e minhas primas para colônia da Mococa dançar a luz do luar, em frente a casa do “Seu” Sebastião, que ficava contente vendo a turminha animada! Só não podia dançar agarradinho não, senão ele parava de tocar e ficava bravo e dizia:
– Olha o respeito!
Depois de muito tempo, e com as casas praticamente todas vazias, essa colônia ganhou fama de assombrada e todos as vezes que nós, adolescentes, íamos de carona com os Bonacin pras quermesses em São Simão no Educandário, tínhamos que passar por ela, morrendo de medo. Certo dia, um cavalo preto apareceu, parece que estava arrastando um corpo seco. O medo foi geral e saímos em disparada até a colônia nova, que era a mais perto, assustados e com a língua de fora. Qualquer semelhança com a vida real é pura coincidência.