Revista Pardo

Nossos ídolos serão sempre os mesmos

Escrevo, hoje, sobre um assunto que não está relacionado diretamente às histórias de Santa Rosa, mas está relacionado a todos nós brasileiros. Perdemos num mesmo dia Rolando Boldrin e Gal Costa, dois dos mais dignos representantes de nossa música popular. Ele mais ligado ao bucólico, ao mundo da música caipira, ela cultivada na vanguarda da MPB, mais eclética.

São, ambos, expoentes de meu tempo de juventude. É forçoso concluir, portanto, que meu tempo de admiração de ídolos também se escasseia, vou junto. A vida é mesmo assim, quanto mais se vive, mais se morre. Dois episódios relacionados a esses fantásticos artistas que agora se vão, marcaram-me.

Em 1972, quando Caetano e Gil voltaram do exílio, eu tinha 20 anos. Foi mágico assistir aquele documentário ao vivo na TV cultura de São Paulo. Os quatro ídolos: Gil, Caetano, Bethânia e Gal numa sala conversando de forma despojada, cantando, mas, principalmente, felizes por retornarem à pátria. Senti como se estivessem na sala de minha casa, conversando comigo. Naquele dia Gal me assombrou, cantou de improviso “oh minha honey baby…” sem nenhum esforço. Um amigo observou: “veja ela nem faz força pra cantar e nunca desafina”.  Será que Gal já desafinou alguma vez?

Certa vez eu estava numa feira de citricultura na tradicional Estação Experimental de Cordeirópolis. Boldrin estava contratado pelo stand da Basf como show man. Em certo momento aproximei-me dele e iniciei uma prosa íntima, como se fôssemos velhos amigos. Afinal, ele é de São Joaquim da Barra, cidade bem próxima de Santa Rosa. Boldrin, ressabiado, afastou-se. Inicialmente fiquei chateado e sai desconcertado. Passado algum tempo entendi que minha aproximação fora imprudente, talvez ele tenha entendido como assédio. Boldrin foi um artista que sempre me fez sentir em casa nos seus programas de TV. O Stand da Basf era uma ex-casa, trabalhei por 11 anos na empresa. Retornei, pedi-lhe desculpas, expliquei a situação e parti deixando em “stand-by” seu olhar agora não tão ressabiado.

À Gal e Boldrin, velhos ídolos, minha reverência e admiração.

Edgar Esteves

Edgar Esteves

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