Os professores nos inserem no mundo exterior e, talvez por isso, estejam sempre tão vivos em nossa memória quanto nossos pais. A família traz a ancestralidade, o convívio afetivo, já o professor traz a “anima mundi”, a alma do mundo.
Ainda assim, não está fácil para o professor. Afinal, para muitas pessoas, hoje, desenvolver senso crítico na política é doutrinar e conversar sobre sexo com os jovens é ensinar homossexualidade. Todos sabemos da importância dos professores para o desenvolvimento da ciência, para uma sociedade melhor, mais justa. No entanto, eles são pouco valorizados.
Já me esqueci de muitos fatos e até amigos ao longo do tempo, mas não esqueço de meus professores. Foram fantásticos, todos eles. Lembro-me com clareza de meu primeiro dia no grupo escolar Teófilo Siqueira. Todos, sob a batuta do Sr. Renato Massaro, perfilados no pátio pra cantar o hino nacional. Eu, com olhar assustado, postado feito militar, ouvi quando alguém me alertou
– Edgar pula pra cá, o professor dessa sua fila não é legal…
Pulei pro primeiro ano de Dona Luiza Ribeiro, com quem recitei o beabá durante todo o ano de 1958. No segundo, conheci Dona Volmar Balbão. Gostei tanto dela, que frequentei o segundo ano duas vezes.
No terceiro, Dona Eliza Tincani, no quarto Dona Mariana, mãe da Simone Guimarães, que me desenhou no mundo da lua, bem lá no canto superior do quadro negro, que era pra todos verem. Entendi, mais tarde, que ela me estimulava a ler “O pequeno príncipe”.
No gyminasium e no colegial, aprendi com grandes mestres: Salem, Odete, Tete, Tereza Cristina, Fernandão, Silvia, Tedão, Terezinha Sério, Samira, Paulo Vilela, Nim Viezi, Eunice Cicolani e a Carolina que me ensinou, além de literatura, sobre a ilha de Páscoa. Gostava tanto dela, que tenho uma filha chamada Carolina e não sosseguei enquanto não visitei a ilha de Páscoa.
No cursinho, em Piracicaba, conheci professores instigantes, como o professor de física Torigoi, que me ensinou a diferença entre condução elétrica em paralelo e em série. Até hoje aplico seus ensinamentos e convivo com as pessoas sempre em conexão paralela, nunca em série. Na faculdade, meus mestres eram mais circunspectos, mas todos foram essenciais.
Quem mais me marcou, nessa fase, foi o professor de matemática Cultarelli, conhecido como Canarinho, apelido da época de goleiro do São Paulo. Ele ensinou que na vida é necessário se dedicar. Ele dizia:
– se você não presta atenção na aula, a hora não passa.
Com isso, aprendi a diferença entre o passar das horas e o passar do tempo. O tempo da vida que passa inexorável, Chronos, e a lembrança do tempo vivido com todos os meus mestres, Kairós. A eles minha reverência!