Em 1969 não havia colegial na cidade de Santa Rosa. O lógico e imperativo, pra quem quisesse continuar os estudos do científico, era ir pra Ribeirão Preto e ingressar no famoso Otoniel Mota. Alguns até fizeram o exame admissional para entrar no colégio e conseguiram aprovação. Os alunos do Conde de Santa Rosa eram bons alunos, nossos professores eram fantásticos.
Vale até relembrar alguns deles: Dona Odete, que me obrigava a sonhar e viajar para o passado em suas históricas aulas de história; a Carolina, com seus olhos verdes profundos, que me convidava a vasculhar a mente dos grandes autores de literatura; a Tete, que me ensinou a definição de Cuestas e ensinou de forma tão contundente que a pergunta caiu no vestibular da UNESP; o Fernandão, que me despertou gostosamente o gosto pela matemática, substituído sem perda de qualidade pelo Nim Viezi; a Samira, com sua elegância, ensinando a pronúncia em Inglês, das palavras com ‘th’ comprimidas entre a língua e o dente; a Salem que despertou em mim o gosto pela ciência. Dona Terezinha Sério, com seu português corretíssimo, a nos dizer “mocinhos, a vida é muito mais que ser cabide de uniforme”. Tinha muitos outros fantásticos professores e, por isso, foi até fácil tirar de letra admissões e vestibulares.
Mas, na época, Ribeirão Preto era uma cidade pequena e não oferecia oportunidade de emprego pra todos. Era necessário trabalhar para se manter. Foi quando o senhor Geraldo Magela (salve Seu Geraldo grande e honorável cidadão santa-rosense e diretor do Conde), depois de muito esforço, conseguiu implementar o colegial na cidade. O plano de mudar foi adiado. Voltamos pra terrinha. Nossa turma cursou, então, o primeiro e o segundo colegial em Santa. Para o terceiro ano, no entanto, não houve quórum e tivemos que cursá-lo em Campinas.
Quando a Mariangela Dantas Pegoraro Sarreta apareceu em meu face, reavivou minha memória. Pensei muito naqueles anos magníficos. Lembro-me que a família Pegoraro já havia se mudado, ou retornado pra Sampa em 1971, mais exatamente pro bairro Pompéia. A turma de 70, do time de basquete, ainda era muito unida. Pra matar um tanto da saudade nos deslocamos num final de semana, do ano de 1971, pra lá.
Se não me engano, estávamos eu, Bertinho Juns, Romeu Antunes, Celso Medeiros e Alvaro Panchito Mussolin. Lá encontramos o saudoso Tico, o Tigrão e o Edson. Mariangela ainda pequenina, junto com Wilson e Lale talvez nem nascido fosse. Foi inesquecível, Dona Nadir nos serviu uma deliciosa feijoada e voltamos pra Campinas somente no domingo, anoitecendo. Como gostaria de ter uma foto daquele dia. O momento da despedida foi tão significativo que a patota compôs uma música, cuja letra coloco a seguir. Os autores principais foram o Tico, o Romeu e o Bertinho. Posteriormente eu tomei a liberdade de acrescentar alguns versos.
Companheiro
Companheiro meu amigo
Me despeço está na hora
Sem vontade vou-me embora
Vou deixar o seu abrigo
Esta hora nos limita,
Nos expulsa da presença
Nós sentimos aceitamos,
Vamos indo sem saber
A vida é mesmo assim, a vida é mesmo assim (repetir)
De repente a gente muda
Carregados pelo vento
É ausência, é silêncio
No futuro só a certeza
Da alegria que tivemos
O reencontro lá na frente
Encarando nosso tempo
A vida é mesmo assim, A vida é mesmo assim
Sempre assim, eternamente
As imagem destaques da matéria são dos formandos de 1968, tiradas do grupo Histórias de Santa Rosa, publicada por Kleber Pacca.