O alambrado que separava o campo da torcida era de madeira. Eram sarrafos pontiagudos de 1,5 metros, feito espadas enfileiradas, um perigo quando a torcida ficava nervosa. Assim era o campo do Santa Rosa Futebol Clube. Meu sonho de juventude era ser volante titular do Santa Rosa.
Como não admirar ídolos, tanto de Amália, quanto de Santa Rosa, como Gavilã e Pezão Salviato e suas firmezas de beques, a classe de Meme e Zé Roque no meio campo, as passadas largas e chutes fortes de Da Bina, os chapéus e os dribles desconcertantes de Tiãozinho Fonseca, a rapidez de Lebrinha.
Jogavam muito. Cheguei a participar do juvenil quando o técnico era o Nem Pernambuco e do adulto quando era o Rubinho Belizzi, que, aliás, dá nome ao estádio. Nunca fui bom de bola e a alternativa foi estudar.Voltava nos feriados e férias e nas tardes de domingo estava lá pra assistir meu querido Santa Rosa Futebol Clube.
Certa vez vi tio Antônio Titarelli arrancar um dos sarrafos pontiagudos com a intenção de partir contra o juiz, ainda bem que ficou apenas na intenção. Aliás, a família Titarelli tem função importante para a história do futebol santa-rosense.
A área disponibilizada pela prefeitura não permitia um campo com medidas oficiais e os Titarelli doaram a parte da área necessária para viabilizar a participação do Santa Rosa em torneios amadores oficiais. Assisti jogos memoráveis no estádio da Avenida Rio Branco.
Lembro-me do jogo contra Cajuru, quando o clima esquentou. Subi na laje que ficava acima da bilheteria, junto com alguns amigos. Era o lugar ideal para assistir, tanto que logo alguns adultos também subiram municiados com pedras. Um carro importado, desses invocados, parou no meio fio da avenida.
Desceu dele uma cajuruense gritando e distribuindo tabefes e pontapés. Quito Pachola, calmamente, pegou a maior pedra depositada sobre a laje e soltou sobre o carro. Ela rompeu o para brisas e atingiu o banco de couro vermelho do lado do passageiro, que, por sorte, estava vazio. O hidramático partiu em disparada e tudo se acalmou.
Quem viveu em Santa Rosa de Viterbo nas décadas de 60, 70 e 80 já ouviu falar em “bola pra Juvina”. Dona Jovina morava ao lado do “estádio” municipal. Pra quem entra pela avenida Rio Branco e olha em direção ao antigo pasto dos Titarelli, a casa dela ocupava quase toda a vizinhança à esquerda do campo.
Se o time adversário sufocava o Santa Rosa, o grito era um só: “bola pra Juvina imbecil!!!” Se o adversário fazia gol o burburinho também era uníssono: porque ele não chutou pra Juvina? Jovina dominava o clássico Santa Rosa vs Amália.
Se o Amália sufocasse, era “bola pra Juvina imbecil!!!” Se o Santa Rosa sufocasse era “bola pra Juvina imbecil!!!”
As bolas, na época, eram de capotão e muitas ficavam deformadas. Quando caiam duas bolas em seguida na Jovina, era necessário interromper o jogo até que retornassem. Certa vez, num jogo no campo da Sabesp, em São Paulo, ouvi alguém gritar:
“manda pra Juvina cacete!!!!”.
Localizei o personagem e perguntei se ele era de Santa Rosa. Não, ele respondeu, ouvi um amigo gritar isso e achei legal. O jargão rompera fronteiras.
Em 1970 o Santa Rosa faturou o título do campeonato regional amador, organizado pela Federação Paulista de Futebol, com um timaço: Wagner, Jadier, Dedê, Paciência(Zé Maria), Neco, Pedrinho do Vavá e Meme, Vartinho Gambá, Tiãozinho Fonseca, Bom Bril e Tiãozinho Preto(Pedro Fonseca).
A todos eles minha admiração em forma de homenagem.
Imagens retiradas do acervo do SRFC e Grupo Histórias de Santa Rosa