A escravidão foi um dos flagelos da sociedade brasileira. Ela se iniciou por volta de 1530, quando os portugueses iniciaram a colonização do Brasil. Inicialmente, optou-se pela mão de obra indígena. Contudo, o negócio referente ao comércio de escravos advindos da África demonstrou-se mais rentável. Em anos, milhares de negros foram trazidos do continente africano, em condições sub-humanas, pelas quais morriam vários deles a caminho do Brasil. Aqui, eram empregados como mão de obra escrava para trabalharem nos mais diversos âmbitos: agricultura, pecuária, doméstico, entre outros.
Dessa forma, eram vistos como mercadoria e considerados propriedade privada. A escravidão foi abolida somente em 1888, por pressões internacionais de outras nações que não consideravam mais o negócio rentável. Ainda que tivesse sido abolida, o comércio ilegal de escravos continuou na nação por anos ainda, o que, gradativamente, foi sendo derrubado, através de leis como a do “Ventre Livre” (que dava liberdade aos filhos de escravos).
Apesar de livres, os escravos de outrora ainda sofriam consequências do pensamento ideológico da época. Para a manutenção do sistema, havia a proliferação de alguns tipos de crenças em relação aos negros, como que numa justificativa para a condição em que se encontravam. Esse grupo era visto com inferioridade em relação aos brancos em todos os sentidos, sendo, então, subjugados. Aqui, surgiu o racismo. Poucos, depois de livres, conseguiam uma oportunidade de trabalho ou tinham acesso ao estudo. Dessa forma, passaram a ocupar cargos e funções inferiores em relação aos brancos, além de serem expulsos para as regiões mais periféricas das cidades.
Mesmo com a abolição e as leis subsequentes, as consequências da escravidão vigoram até hoje. O pensamento de que os negros eram inferiores permaneceram, incentivando, assim, a sua exclusão. Até os tempos de hoje, percebemos os impactos desse pensamento enraizados na sociedade brasileira, refletido em dados referentes à educação, ao mercado de trabalho de trabalho e à criminalidade. Segundo o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara, os milhões de alunos que abandonam ou são reprovados na escola demonstram um modelo voltado para a exclusão social dos mais pobres. Mas ele também ressalta que a maioria dessa parcela, além de ser de áreas de periferia, são negros. Este também é o segmento que é mais atingido pela repressão policial.
Ainda temos na nossa sociedade o que se configura como o chamado “racismo estrutural”: nas instituições e nas relações sociais, econômicas e políticas, pode-se perceber que alguns grupos étnicos são privilegiados, em detrimento a outros. E isso faz com que se continuem o preconceito racial e as desigualdades. Há vários exemplos dessa presença: a falta de representatividade na política de negros; falta de representatividade em programas de televisão, filmes e séries; e pouca representatividade em cargos de chefia e profissões mais privilegiadas. Não é questão de falta de capacidade, nem nunca foi: foram questão de oportunidade e falta dela, corroboradas por um pensamento racista.
Felizmente, hoje o engajamento contra o racismo estrutural vem mudando. Existem as cotas raciais, para processos seletivos e concursos em geral, a fim de se oportunizar a entrada desse grupo em defasagem (advinda da escravidão). Para que as oportunidades sejam equivalentes, toda uma sociedade, seu pensamento e melhorias na educação devem acompanhar o processo. Hoje, ainda, há canais de denúncia de crimes de cunho racial, e existem as redes sociais, fortes locais de engajamento e formação de opiniões. Eu mesma me engajo nessas lutas, compartilhando conteúdos de cunho informativo e apoiando causas do tipo. Com atitudes como a minha e de outras pessoas, as injustiças advindas do racismo não continuarão a se perpetuar. E, com o passar dos anos, teremos uma sociedade mais justa e igualitária, na qual todos se sentirão representados, acolhidos e participativos.
Por Rita Vilela, santa-rosense, moradora do Bairro Nosso Teto.
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