Um dos maiores desafios que tenho, desde o começo da minha profissão, é desmistificar o padrão de beleza europeu, que todos nós brasileiros, desde os tempos antigos, acreditamos ser o único sinônimo de beleza e elegância. No mês passado, completei dois anos de trabalho, sou Hair Stylist especialista em cabelos étnicos (cabelos cacheados e crespos) e Maquiadora.

Desde a infância, por ser filha de uma mulher preta e ter cabelo crespo, sempre tive dificuldade em me aceitar. Foi só depois de passar pela transição capilar, e hoje trabalhando com os cabelos naturais, que vejo o poder da beleza preta.

Infelizmente, ainda vivemos em uma sociedade preconceituosa e racista. No meu trabalho vejo isso praticamente todos os dias, atendendo clientes que a vida toda foram convencidas de que seus cabelos, sua cor de pele, seu corpo, enfim tudo nelas é “feio”, que elas devem se submeter a químicas de alisamento e procedimentos estéticos para mudar quem elas são, mas isso não é verdade.

Acredito que se Deus fez cada um de um jeito é porque somos todos bonitos exatamente do jeito que somos.

Transformação

Poder mudar algo na aparência deveria ser uma escolha feita por decisão própria e não uma obrigação, porque alguém falou que algo na nossa aparência não é agradável de se ver. Pra mim, a experiência mais transformadora que tenho é quando uma cliente se olha no espelho e vê beleza no seu cabelo natural, aquele que por anos todo mundo falou que era feio, que sofreu bullying na infância, ou que alguém da família colocava apelidos pejorativos nesse cabelo e de repente ela se vê ali no espelho naturalmente linda.

O cabelo mexe muito com uma mulher, então é um ato de empoderamento sair pra rua jogar os cabelos pra cima sem medo da opinião dos outros, usar o volume sem se importar com o frizz e não precisar correr da chuva por medo de estragar a escova, é uma sensação que só quem já viveu essa experiência sabe como é libertador.

Nas minhas redes sociais profissionais estou sempre exibindo com orgulho as minhas clientes, porque eu entendo exatamente pelo que elas passam, sejam mulheres ou crianças, sempre converso com todas sobre a importância de se amar do jeito que é. Isso sim é beleza, a beleza real, aquela que você admira pelas características que podem não serem iguais as suas mas ainda sim tem uma beleza única ali.

Nesses dois anos de trabalho, aprendi que o que eu faço não é só cabelo ou maquiagem, meu dever como profissional é mostrar para essas pessoas que o problema nunca esteve nelas e sim na nossa sociedade, e na mídia que alimenta esse padrão de beleza europeu que vem sendo quebrado graças ao poder da internet dando voz a todos. Sou muito grata por tudo que estou vivendo dentro dessa profissão, conhecer a história dessas mulheres e ajudá-las tem transformado a minha vida.

Espero que para o ano que vem eu consiga através do meu trabalho impactar outras vidas e revelar outras belezas por Santa Rosa e região.

Por Danny Pontes

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