…Foi uma verdadeira saga carregar todos os apetrechos por 3 km e, pra piorar, seguimos Barreirinho abaixo pela margem errada. Sabíamos que o córrego desaguava no Rio Pardo e esse era o sítio almejado, mas não era possível erguer o acampamento no lado em que estávamos. Quase no final do trajeto, chegamos numa mata muito fechada e foi impossível transpor com todas as tralhas. Era necessário mudar de margem. Depois, destemidos amigos descobriram um local ideal na outra margem. Encontramos uma árvore caída que atravessava o córrego e por ali empreendemos a travessia.
Estávamos eu e o Babá (João Luiz Campos) tentando a travessia pela árvore, imaginando que o córrego fosse profundo. Atravessei e brincava com a machadinha do Tigrão (Newton Pegoraro, que acabou escapando de minha mão e caiu no córrego. Por conta disso, descobri que ele era bem raso, mas disfarcei. O Babá, que na época já tinha uns quilinhos a mais, agarrava-se com força na arvore e deslizava lentamente. Locomovia-se, seguindo minhas orientações.
– “Não vou conseguir, Olegário” – dizia trêmulo.
Depois de um tanto de esforço e sofrimento resolvi aliviar. Pulei na água e levantei os braços para mostrar que dava pé.
– “Porra Dai, que sacanagem”.
O Babá “caiu” no córrego e festejamos juntos. Refrescamos o corpo já desgastado e amenizamos o cansaço enquanto aguardávamos o resto do bando.
“Quem não conhece, não pode saber, que todo o peixe não pode acabar. Poluição por lá já é um fato, é um desacato contra a natureza. Eu quero ver alguém reclamar acabou o peixe cadê beleza”
Enfim atingimos o local almejado, bem onde o barreirinho deságua no Pardo e montamos a grande barraca a 30 metros da margem do Rio Pardo. Escoteiros por aptidão, Tigrão (Newton Pegoraro), Bertinho Juns (Rollingstone), Tico (Edmundo Pegoraro) e Celso Medeiros (Capitão), prontamente fincaram os pés direitos e as travessas, tudo com madeira obtida ali mesmo na mata. Depois foi só espalhar o encerado por cima, deitar e descansar.
Depois de algum tempo, ouvimos os gritos do Olemário (Edmar Esteves) que, com olhar assustado, apontava pra cima, bem sobre a entrada da barraca. Apontava uma enorme cobra que, tudo indicava, queria saber, mais de perto, quem eram os intrusos que invadiam seu território. Alguns minutos depois ouviu-se o estampido da espingarda de carregar pela boca que estava em mãos do Bertinho Juns. Vimos que a cobra, com a cabeça pendurada pela pele, despencava. Houve um momento de silêncio e de medo. O que mais aconteceria? Resistiríamos? Resistimos.
Havia um frio intenso e aí cada um tentou, a seu modo, acomodar-se na grande taba. Uns construíram camas suspensas acolchoadas com duros e pontiagudos capins e folhas, outros espalharam parcos cobertores.
“Eu quero ver o sol morrer do outro lado do Rio Pardo. Quem não conhece, não pode sentir, quem conviveu pode confirmar. Seu ar poeta emoldurado em verde, vida a se abrir, silencio e luar. Luar é mata, mata é luar, bela ribanceira amor pra todo lado”
Tigrão comunicou que observara muita caça no local. Avistara enormes pombos do ar, veados, jaós. Disse que a mistura estava garantida, mas, no final das contas, a única caça que comemos foi um enorme lagarto teiú.
Continua…