Revista Pardo

Quero ver acampar comigo – Final

…As visitas que estavam pra chegar eram mais que importantes, causaram verdadeiro frisson na moçada. Aconteceu que as Biafras apareceram no acampamento. Biafra era o nome que dávamos ao grupo de amigas do Conde. Não sei exatamente por que Biafras, talvez uma alusão à República da Biafra, um efêmero pais africano que, por conta de guerras, tinha a população magra. Em contrapartida, logo depois, surgiu o grupo das tanajuras. Provavelmente porque… sei lá, porque tivessem…, ou fossem tanajuras mesmo. Por último apareceu o grupo das aeromoças, lindas minas de Sampa. Esses dois últimos grupos não apareceram no acampamento, ainda não existiam.

Toda manhã alguém se dirigia a estrada pra saber notícias da civilização. Foi assim que soubemos da vinda das meninas. Era necessário limpar e reorganizar o acampamento para recebê-las condignamente. Num sábado de manhã surgiram, Maria Eliza, Meire Belizzi, Regina Bonacin, Márcia Persiani e outras que já não me recordo.

A ideia era impressioná-las com um fausto almoço regado a limonada. Como só tínhamos macarrão e sardinha, o prato preparado foi macarrão com sardinha mesmo. Estávamos todos em êxtase, afinal já havia alguns primeiros sinais de namoro, como era o caso de Tico com Regina, Olemário com Maria Eliza, Olegário com Meire. A emoção foi tanta que, no momento de servir, a macarronada desabou. O Tico tinha construído uma mesa especialmente para o evento, mas ao colocar a panela com o macarrão sobre a mesa, uma das varas soltou-se,  a panela deu com o chão e o macarrão espalhou-se na areia. Naquele dia, o alimento farto foi a emoção e dela nos fartamos.

Houve outras edições de acampamentos no mesmo local. Nenhum, no entanto, foi tão mágico quanto o primeiro. No segundo acampamento, com alguns novos personagens, houve fatos que merecem registro nesse texto. Um deles provoca até certo constrangimento. Chegou pelo caminhão de leite um pacote para um dos acantonados que aniversariava. Ao abrir, o destinatário do pacote, deparou-se com um bolo, um bolo fecal. O doce e carinhoso bolo original fora substituído por outro bolo. Há controvérsias sobre a identidade do autor e do destinatário do bolo, por isso não vale a pena citar.

Outro evento a destacar é a foto dos acampados sobre uma canoa. Todos de costas e pelados sobre um barco atravessado no barreirinho. Alguém registrou o instantâneo e posteriormente distribuiu na escola, a mídia social da época. Houve apostas entre as meninas para identificar os traseiros de cada um dos pelados. Consta que todos foram identificados com base em pesquisas nas aulas de educação física, já que, outro método possível, ainda não era usual.

Acrescento a participação de alguns amigos não citados na música do Bertinho Juns e do Romeu Antunes, como é o caso do Berne, do Marinho meu primo e do José Avelino Miranda. Talvez a mãe do Soca tivesse razão, havia sim, muitos  riscos. Houve mais cobras e sabe-se lá que perigos mais escondiam a densa mata, o córrego e o rio. Mas nós, jovens de 16, 17 anos, jamais nos preocupamos com isso. Parece que havia alguma entidade a nos proteger. Foram acontecimentos inesquecíveis.

Não houve, com exceção da foto dos pelados na canoa, outros registros fotográficos do acampamento. Tínhamos, como integrantes do grupo, grandes futuros fotógrafos, como Romeu e Agapito, mas não temos os registros. Eu, pelo menos, desconheço. Com toda evolução tecnológica que se alcança, imagino que possamos, um dia, imprimir lembranças, memórias pessoais.

Se um dia essa tecnologia surgir e eu estiver vivo, gostaria de imprimir e compartilhar muito do belo e inusitado que vivemos. Lógico que alguns registros já estarão desgastados pelo tempo, mas o semblante de cada um ainda esta vivo em minha memória. Gostaria de compartilhar, principalmente, os semblantes felizes e cheios de esperança de cada um dos meus amigos que viveram aqueles dias mágicos. A todos os amigos dos acampamentos no Rio Pardo, envio caloroso e saudoso abraço.

 

“Eh!! Rio Pardo, ô rio danado, já não vou mais por aí e isso me deixa desesperado. Mas, agradeço a ti, meu querido Rio, pelos ensinamentos essenciais do passado”

 

Fim

Foto destaque da matéria: No primeiro plano Cheda à direita, Tico e Zé Avelino à esquerda. Regina Bonacin sentada.

Perdeu as primeiras partes? Clique os links:

Parte 1

Parte 2

Parte 3

 

Edgar Esteves

Edgar Esteves

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