No final da década de 60 e início de 70, nosso grupo de amigos realizou acampamentos na beira do Rio Pardo. Éramos muito jovens e vivíamos o auge da ditadura. Foram momentos especiais que gostaria de compartilhar. Por ser um texto mais longo, vou dividí-lo em 3 ou 4 partes e publicar, uma parte por semana. O texto tem como base a música composta pelo Bertinho Juns junto com Romeu Antunes, denominada Rio Pardo.
Parte 1
Há 52 anos não havia grupo de escoteiros em Santa Rosa e acho que não tem até hoje. Por isso, acampar na beira do Rio Pardo fosse, talvez, a única opção de lazer radical disponível. Hoje, depois de tanto tempo passado, muitos detalhes se perderam na poeira deixada pela vida que passa. A essência não se perde, no entanto, e é ela, a essência, que tento resgatar aqui nessa crônica. Os participantes daquelas incríveis aventuras estão convidados a corrigir e, também, acrescentar lembranças a esse meu memorando.
“Meio do ano todo mundo arreunido, eu quero ver acampar comigo…”
Os preparativos e a empolgação começaram bem antes, mas a lembrança mais aguçada começa numa ensolarada tarde de segunda, 30 de junho de 1969. Estávamos, alguns amigos, no quintal da casa do Soca (Henrique Fiorini), que ficava bem de frente ao portão de entrada do Conde. A intenção era convencer Dona Elvira, sua mãe, que não queria permitir a participação do nosso amigo no acampamento tão cuidadosamente planejado. Mesmo diante de inúmeros e eloquentes apelos e argumentos, Dona Elvira foi irredutível:
“Jeininhum, rio perigoso e mato fechado não é lugar pra criança”
Perdemos o Soca para o acampamento, mas não a empolgação. O homem ainda não havia pisado na lua quando, na madrugada do dia 05 de julho, um sábado, subimos na carroceria do Chevrolet verde, ano 1951, do Mário Tittarelli. Sob frio congelante, partimos por volta de 5 horas da madrugada, cada um com suas tralhas e ansiedades. Mas, todos preocupados com o enorme e pesado encerado que serviria para nos abrigar das intempéries e de animais perigosos. Percorremos quase toda linha de leite até chegar no sítio do senhor José Dilhermano Ribeiro, pai do Luiz Tertuliano e Paulo de Tarso para alcançar, no final da descida, o córrego Barreirinho.
“Ô Rio Pardo, ô rio danado, se não for aí fico desesperado….”
Lembro-me da enorme dificuldade que foi carregar a pesada lona até o local do acampamento. Cada um dos mais fortes carregou por um trecho. Foi sofrido. As vezes penso que nossa geração foi muito prejudicada por conta de algumas “pequenas” evoluções que aconteceram não muito tempo depois. É o caso do computador no lugar das máquinas de datilografia e dos mimeógrafos e das levíssimas barracas no lugar dos pesados encerados.
A distância entre a estrada e o rio era maior do que esperávamos, algo em torno de três quilômetros. Uma verdadeira saga.
Continua…